Sei que faz tempo que não alimento o blog, mas, antes tarde do que nunca - péssimo, mas adequadíssimo ao momento, hehe. O texto é longo, mas vale a pena.
Holandina Salles, ou melhor, Lola, aprendeu a cozer aos 6 anos, com a mãe, que costurava calças masculinas. “Naquela época, sabia botar linha na agulha já tinha que ajudar”, conta. Mas não gostava desse serviço porque era sempre igual. Queria mesmo era fazer feminino, então, começou a aprender e, aos 12 anos, conquistou sua primeira cliente.
Para se aperfeiçoar – já que sua mãe não sabia lhe ensinar a cortar, seu conhecimento vinha da prática mesmo – ingressou no curso de Corte e Costura oferecido pelo Círculo Operário aos 18 anos e, à noite, aprendia com o pai, que era seleiro, a colocar os moldes no fio.
Dali pra frente, “tudo melhorou”, diz, e o trabalho só fez aumentar. Mas Lola ainda fazia apenas roupas simples, demorou até que começasse a fazer roupas de festa. Foi aos 20 e tantos anos, em 1956, que fez seu primeiro vestido de noiva, para uma amiga. Era de tule, com uma sobressaia de renda bordada, acompanho de luvas e chapéu. O primeiro vestido de gala ela também não esquece: brocado, num tom quase prata.
As idéias para os modelos vinham de figurinos que a irmã e as amigas traziam de Porto Alegre, tirava uma coisa daqui, outra dali, mudava pra ficar melhor no corpo da cliente, e, aos poucos suas próprias criações iam brotando naturalmente. Ah, ela também era – e ainda é – “apaixonada, apaixonada” por Coco Chanel, estava sempre atenta ao que era a última moda da maison parisiense.
Em 1966, Lola resolveu montar uma confecção infantil. Aí sim ela tinha mil idéias. “Quando a gente gosta nunca faltam idéias, sempre se é criativa”, relembra. Porém, o negócio durou pouco. Em 1970, sua casa e sua confecção pegaram fogo, ela perdeu tudo, e teve que recomeçar do zero.
Com muita força de vontade, recuperou as clientes particulares, e mais: passou a fazer figurinos para espetáculos de dança. Atendia principalmente ao corpo de ballet clássico de Dora Rezende Fabião. Bordava com primor os collants, pois roupa de palco tem que ter muito brilho, e armava perfeitamente os tutus utilizando cordas de relógio pois, naquela época, ainda não se encontravam por aqui as barbatanas próprias para esse fim.
A essas alturas, já deu para reparar que Lola gosta mesmo é de desafios. Vestidos de gala bem trabalhados, noivas, debutantes. Peças detalhadas, nunca repetidas!, drapeados, tomas, mulage, detalhes trabalhosos mas que, ao ver o resultado final, lhe proprocionam um sentimento de imensa satisfação. Antigamente, o amor era tanto que ela não queria mais que as clientes viessem buscar os vestidos. Quando ficavam prontos, ela os pendurava e seu desejo era ficar apenas olhando, admirando sua obra.
Aos 80 anos, Lola continua cheia de encomendas de noivas, debutantes, vestidos de baile, sem falar das candidatas a soberana da Festa da Uva. Os vestidos oficiais da Festa já fez quatro vezes. Suas clientes atravessam gerações: avós, mães, filhas, netas e até bisnetas (ainda que pequenas, de 7, 8 anos) já anunciam sua vontade de fazer o vestido de 15 anos com a costureira.
Seu braço direito no atelier é a filha Tini, responsável pelos bordados, pelo contato com as clientes, ida às lojas para compra de tecidos, enfim, “ela é mais a cabeça, agora”, explica. Tini só não costura, essa tarefa continua sendo exclusiva de Lola, mas como ambas fizeram uma parte do curso de Moda e Estilo da UCS, para se qualificar ainda mais, ela ouve os palpites da filha com atenção.
O que a costura representa para Lola? “A principal rival do meu marido”, brinca. Além de abandoná-lo para ficar mais tempo no tão adorado atelier, a costura pra ela é tudo. “O meu trabalho pra mim é vida”, afirma com os olhos brilhantes a estilista Lola Salles.
Parabens Lola! Parabens Tini.
ResponderExcluirVocês fazem parte do momento mais especial da minha vida (e da vida de tantas outras noivas, debutantes, candidatas a Rainha). Vocês são especiais: amigas, psicólogas, por que não dizer mães. Acompanham os risos e as lágrimas, as emoções e ansiedades. Realizei meu sonho: Fiz um casamento lindo, com a pessoa que eu amo e o carinho de vocês estava comigo, o tempo todo, cobrindo meu corpo (inclusive na lua de mel). Beijos. Giovana
Desde pequena, sempre admirei e desejei o privilégio de carregar um vestido destes, permeado de história, orgulho e poesia. Imaginei, por anos a fio, como seria e se um dia eu teria o meu vestido. E meu sonho foi realizado através do talento e do amor que a Lola e a Tini conseguem transformar em realidade, através das próprias mãos. Para sempre lembrarei, com o coração, de todo o carinho, afeto e momentos maravilhosos que estas duas pessoas queridas devotaram a mim. E para sempre serei grata pelo privilégio de tê-las conhecido.
ResponderExcluirUm beijo enorme!